É evidente que se pode sempre tentar. Vejamos: «Ama-me!» «Sonha!» «Lê!» «Lê, já te disse, ordeno-te que leias!»
- Vai para o teu quarto e lê!
Resultado?
Nada.
Ele adormeceu em cima de um livro."
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(pelo) Direito de adormecer com um livro
E se o leitor adormecer não tem mal. «Como um romance» de Daniel Pennac é um óptimo romance para se ter na mesinha de cabeceira. É um excelente companheiro, nada reclamador, mesmo que numa amizade longínqua, em que apenas lhe prestemos uma visita uma vez por década. A última leitura havia sido em 2010 e há pouco tempo apeteceu-me abri-lo, reencontrar algumas ideias sublinhadas e prestar-lhe a devida homenagem: relê-lo 😍 "A repetição é tranquilidade. É uma prova de intimidade (...) Reler não é repetir, é renovar constantemente um infatigável amor."
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o Direito de Reler
As relações privadas, com a leitura, antes e durante da mesma, o enamoramento com o livros, os personagens, as histórias... as palavras e os efeitos dos livros são algo que se encontra a cada página. Existem piscadelas de olho, sorrisos e gargalhadas... nostalgia. E uma certeza enorme de que, desde cedo, escolhemos o passatempo certo para nós: os livros e a leitura.
E com isso, todo um Universo paralelo.
Um com silêncio e os amigos leitores. Logo depois as bibliotecas, as livrarias, a caça a alguma preciosidade num alfarrabista, uma feira de velharias... só porque podem existir livros, a areia da praia como marcador, ou o guardanapo, as notas soltas aqui e ali, o pó que se acumula em casa, porque encontramos sempre um livro inacabado...
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O Direito de Ler em silêncio
Ler é ter um encontro com alguém para além de nós mesmos e ainda assim (parecer) estar sozinho. É rir em público, mais alto e com mais vontade que todos os outros e nem reparar que se riem de nós, por estarmos a rir sozinhos. Ler é encontrar intimidade com a solidão e o silêncio. E apreciar. Desejar esses momentos. Não querer mais nenhuma banda sonora a não ser a do cantar dos pássaros, a da leve brisa ou o rebentar das ondas e ter por companhia um cão sonolento a quem afagamos o pêlo, enquanto mudamos de posição e viramos mais uma página.
"Ninguém se cura desta metamorfose. Não se regressa indemne de tal viagem (...)"
Os livros são um meio seguro para prender e manter acesso esse desejo de continuar a aprender. Eles criam o desejo, de aprender, de conhecer, de sonhar, de mudar, de se enraivecer, criticar, espernear...
É isso mesmo, ler é sentir!
Mas Pennac pensa sobre num aspecto ainda mais importante: como conquistar leitores, como mantê-los focados nesta coisa se sermos sempre leitores-inacabados, sermos sempre aprendizes - absolute bigenners - estarmos sempre dispostos à surpresa e ao confronto, porque isto de ler e ler muito, também tem os seus percalços e revezes, perdas de entusiasmo e esquecimentos, mas feitas bem as contas o livro nunca nos cobra nada e espera-nos pacientemente, seja na mesinha de cabeceira, na estante ou na biblioteca onde vamos décadas e décadas e fio.
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O Direito de visitar a biblioteca como se fosse uma livraria
«Como um romance» é realmente uma preciosidade. É tantas coisas ao mesmo tempo que merece diversas leituras ao longo da nossa carreira de leitor. Mas uma ideia que desta vez me fez muito sentido foi pensar sobre a leitura versus a escola e em como existe uma suposta aversão à leitura. Pior, à leitura como fonte de prazer; e talvez porque na escola se associe muito os programas e as aprendizagens à obrigação. Então, como forma de combater isso, o estudante emancipado, assim que pode, põe fim à leitura e orgulha-se muito disso em idade adulta, é com altivez que diz, orgulho: "o último livro que li foi na escola." E por lá ficou a obrigação e o sofrimento.
Mas não será errado?
A leitura foi um dos meios usados para a aprendizagem, sem ela, pouco teria acontecido, por isso, ler e gostar de ler em idade adulta deveria ser uma celebração e uma homenagem à nossa infância. Ler é, para além de prazer, uma forma de liberdade.
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O Direito de querer mais leitores. Leitores em todo o lado.
Numa próxima releitura e escrita de impressões vou focar-me nas leituras inacabadas, nos livros que temos vontade de deitar beiral afora; afogá-los na primeira poça, fechá-los, simplesmente. E fazê-lo sem culpas, apenas saber que estamos a ler mal o mapa...
"Mas se até agora não consegui atingir o cimo da Montanha Mágica, certamente que a culpa não é Thomas Mann.
O grande romance que nos resiste, não é necessariamente mais difícil do que qualquer outro... há entre ele - por maior que seja - e nós - por mais aptos que estejamos a «compreendê-lo» - uma reacção química que não resulta. (...)
Temos, então, uma opção: ou consideramos que a culpa é nossa, que nos falta um parafuso, que temos uma falha qualquer, ou vasculhamos a noção controversa de gosto e procuramos traçar o mapa dos nossos."
5+7=12 🤣😇
O Direito de Ler não importa o quê, não importa onde
E para controvérsias e vasculharmos noções de gosto ainda temos a nossa querida Roda dos Livros, mas sobre isso...
10 - O Direito de não falar sobre o que se leu!
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